Se a saúde fosse uma série de streaming, no inconsciente dos espectadores, as bactérias estariam no núcleo dos vilões. É que, no imaginário popular, elas são associadas aos turning points da história, como se tudo fosse bem até que as bactérias surgissem e fizessem com que a mocinha – nesse caso, a saúde – tivesse que se desdobrar para reencontrar a paz e o equilíbrio.
Só que algumas bactérias têm potencial para roteirizar, atuar, editar e veicular essa série. A Akkermansia Muciniphila é uma delas. Além de nome de celebridade, esse microorganismo é sinônimo de um organismo em pleno funcionamento.
E mesmo com todo esse protagonismo, ela corresponde a apenas uma das 500 a 600 espécies que sobrevivem dentro do intestino humano.
O grupo é tão incomparável que, caso um diretor de cinema tivesse que elencar o núcleo principal dessa hipotética série sobre a saúde, as bactérias da microbiota intestinal seriam as estrelas do elenco.
Muito embora enredos sobre vida saudável estejam relacionados a movimentos externos – como a cena do indivíduo à mesa durante uma refeição equilibrada, com um belo prato colorido -, é no intestino que o ponto alto acontece: a absorção dos nutrientes.
E é ali também onde atuam cerca de 70% das células de defesa que compõem o sistema imunológico.
De olho no intestino
Não à toa, em 2007, a ciência voltou os olhares para o que ocorre no intestino. Foi por meio da técnica conhecida como ‘16S rRNA polimerase’, que permitiu amplificar os microorganismos que estavam em fase de multiplicação no trato gastrointestinal.
“Esse método fez com que o ‘boom científico’ começasse a fazer correlações com esse microbioma”, explica o nutricionista e mestre em ciência dos alimentos, Murilo Pereira, que destaca esse momento como um dos marcos recentes na análise do microbioma intestinal.
Segundo o especialista, depois de concluir o Projeto Genoma Humano, em 2001, os pesquisadores encontraram uma lacuna de informações a preencher. Entre elas, estava o funcionamento do trato gastrointestinal. Com a nova técnica, as descobertas permitiram compreender elementos até então enigmáticos para a ciência.
Para ilustrar a importância do que acontece no intestino e a forma como isso reflete no sistema imunológico, Murilo faz uma comparação com o bioma Pantanal.
“Se quisermos identificar pontos que mensurem a qualidade do bioma, existe um índice chamado de alfa diversidade, que quantifica a diversidade de espécies que sobrevive nesse bioma. Esse é um dos parâmetros de qualidade: quanto maior o índice, mais nós temos, vivas, espécies distintas que sobrevivem em equilíbrio no bioma”.
Excessos de espécies identificadas neste ambiente traduzem a desarmonia na natureza. Em contrapartida, populações proporcionais ao que se espera, revelam um habitat estável e seguro.
O mesmo ocorre com o intestino.
“Para acompanhar o equilíbrio do bioma Pantanal, se analisa o número de onças pintadas. No intestino existe uma bactéria que representa uma grande qualidade, que é a akkermansia muciniphila. Essa bactéria, quando é encontrada nos indivíduos, representa menores índices de obesidade e de alterações metabólicas”, exemplifica o nutricionista.
Bom saber
O atalho para a manutenção da microbiota intestinal é a alimentação.
A chave, segundo a nutricionista Alessandra Feltre, é uma dieta com adequada densidade nutricional, rica em alimentos naturais variados e minimamente processados. “Se apenas um nutriente essencial faltar na alimentação, já pode ser suficiente para diminuir a eficiência do sistema imunológico”, frisa.
E, até quem não curte séries de streaming sabe: toda temporada precisa do protagonista!
Para ouvir
A microbiota intestinal – e todas as correlações que ocorrem nela – é o tema do segundo episódio da temporada sobre Imunidade do Puravida Cast.
As nutricionistas Alessandra Feltre e Roberta Carbonari conversaram com o especialista em modulação intestinal, Murilo Pereira, que revela tudo o que ocorre dentro do intestino para garantir o fortalecimento do sistema imunológico. Para ouvir, clique aqui.